24/09/2003

O chat do Comunique-se

"Vivência cultural te faz melhor jornalista"




Blogs, fotologs e o Caso Gugu foram alguns dos temas abordados durante o "Papo na Redação" desta quarta-feira (24/09) com Cora Rónai, editora do caderno de Informática e colunista do jornal O Globo. "Acho o blog uma caixa de ressonância genial pra gente ouvir os leitores. E os blogs modificam o jornalismo na medida em que os leitores que têm blogs passam a ser, de certa forma, 'colegas'. As pessoas começam a buscar as informações por nomes de outras pessoas, e não por griffes", disse ela, ao responder uma das perguntas dos usuários que participaram do chat.

"O papo foi muito bom. O pessoal é simpático e encontrei vários amigos", comentou Cora.

Leia o "Papo na Redação" com Cora Rónai:



[14:56:53] - Paulo R. Treib (Diretor - Produtos - Gazeta do Sul - RS - Santa Cruz do Sul) pergunta para Cora Rónai: Cora: é verdade a estória de que você era uma fã juramentada de PC/WINDOWS e quando conheceu o iMac foi amor à primeira vista. Este amor continua ou foi um namoro de verão ?

Cora Rónai responde: Nunca fui fã do Windows, muito menos juramentada. Mas me apaixonei pelo iMac sim. Paixão platônica, infeli$$mente...

[14:58:19] - Aline Canejo (Estagiária - Bayer) pergunta para Cora Rónai: Boa tarde, Cora! Acompanho sempre sua coluna em O Globo e gosto muito dos temas focados, principalmente a sua especilidade - a Informática. Estou fazendo minha monografia em cima justamente dos blogs. Você foi uma das primeiras jornalistas brasileiras a utilizarem tal ferramenta. Como acha que ela modifica o Jornalismo?

Cora Rónai responde: Acho o blog uma caixa de ressonância genial pra gente ouvir os leitores. E os blogs modificam o jornalismo na medida em que os leitores que têm blogs passam a ser, de certa forma, "colegas". As pessoas começam a buscar as informações por nomes de outras pessoas, e não por griffes.

[14:59:37] - Fábio Santos (Assessor de Comunicação - Admédico) pergunta para Cora Rónai: Boa tarde, é uma prazer estar aqui. Qual é a sua formação? Como você avalia o papel do cumunicador no mundo dos negócios?

Cora Rónai responde: Não sou formada em nada. Não fiz universidade. Comecei a trabalhar aos 17 anos. Mas leio absolutamente tudo que cai na minha frente desde que me tenho por gente...

[15:00:31] - Rita Braune (Web Designer - Rita Braune) pergunta para Cora Rónai: Querida Cora, fui testemunha há mais ou menos 8 anos, quando você e a Cristina De Luca criaram a primeira página em Hot Dog do Globo on Line. Você tinha um modem jurássico, instalou numa salinha do globo e mostrou a página para um Diretor do Globo que apostou na novidade. Agora com a fotografia digital e tudo o mais eu pergunto: em que você apostaria de novo? Um grande beijo e saudades.

Cora Rónai responde: Ritinha!!! Saudades!!! Neste momento estou apostando numa comunicação muito rápida, muito visual. Fotolog é um exemplo.

[15:03:18] - Valmir Moratelli Cassaro (Repórter - Editora Globo - RJ) pergunta para Cora Rónai: Boa Tarde, Cora. É um prazer dividir esta tarde com você, via Web. Você acredita na Internet como meio socializador e dissipador de diferenças sociais? Como você encara o desafio de se fazer um caderno de informática num jornal de grande circulação para um país ainda tem um inexpressivo entendimento desse tipo de tecnologia?

Cora Rónai responde: Acredito sim. Mesmo que a Internet não esteja sendo usada diretamente por quem se beneficia dela. Digamos, um agricultor no interior, que nunca vai chegar perto de um computador; mas o técnico em agricultura que ele conhece vai, e vai poder transmitir mais e melhores informações para ele. Quanto ao caderno, bem, ele é feito para uma parcela pequena da população, naturalmente. Mas até quem compra jornal hoje é uma parcela pequena da população, não?

[15:04:47] - Valmir Moratelli Cassaro (Repórter - Editora Globo - RJ) pergunta para Cora Rónai: Cora, o desafio da alfabetização digital é algo que o país terá que enfrentar de frente mais cedo ou mais tarde. E quanto mais rápido tomar decisões, mais preparado estará para o futuro. As políticas governamentais neste setor têm sido bem aplicadas?

Cora Rónai responde: De jeito nenhum. A importância da TI (tecnologia da informação) ainda não foi devidamente compreendida pelo governo. Nenhum governo.

[15:05:27] - Aline Canejo (Estagiária - Bayer) pergunta para Cora Rónai: Por falar em fotolog, aquela do saleiro iluminado em sua coluna foi genial.

Cora Rónai responde: Pra você ver, Aline! Aquela foto foi feita com um Palm Zire, quer dizer: menos do que uma xereta... ;-)

[15:07:24] - Felipe Vogel (Outros - SKAssociados) pergunta para Cora Rónai: Você adota algum critério para escolher as matérias de capa do caderno de informática?

Cora Rónai responde: Critério básico: o assunto tem que ser interessante. Depois, a matéria tem que estar bem escrita -- o que, modéstia à parte, no Info etc. é praticamente normal. A equipe é ÓTIMA... :-)

[15:07:59] - Aline Canejo (Estagiária - Bayer) pergunta para Cora Rónai: Você disse que não cursou nenhuma faculdade. Acredita que a boa formação é hereditária, visto que você é filha do Paulo Rónai? Literatura de pai passa para filho?

Cora Rónai responde: Literatura não passa, mas gosto por literatura sim. Gosto por estudo, no sentido mais amplo da palavra, também.

[15:09:12] - Leonardo Castro (Estudante - "Apple") pergunta para Cora Rónai: Na sua opinião, por que os produtos da Apple não têm um grau maior de aceitação aqui no Brasil, além do fato de serem relativamente alto seus preços ?

Cora Rónai responde: O preço é o principal problema. Mas, além disso, a Apple não conseguiu criar uma "cultura Apple" quando ainda poderia ter feito isso, isto é, quando a informática estava começando a se desenvolver por aqui. E por lá, claro...

[15:10:10] - Rita Braune (Web Designer - Rita Braune) pergunta para Cora Rónai: Você acha que o E-Learning pode ser uma onda nova na Internet?

Cora Rónai responde: Não sei se é onda; essas coisas às vezes começam com muito barulho, depois, claro, deixam de ser novidade. Mas isso não quer dizer que elas não continuem lá.

[15:10:49] - Silvia Caseiro (Redator - Editora Net Alpha) pergunta para Cora Rónai: Olá Cora, sou redatora e assessora de imprensa do site Guia Planeta, gostaria de saber quais os critérios são adotados para repercussão de uma notícia, cuja informação vem da assessoria de imprensa de uma empresa desconhecida?

Cora Rónai responde: Se o assunto for interessante, terá repercussão.

[15:11:02] - Felipe Vogel (Programador Analista - Comunique-se) pergunta para Cora Rónai: Você acredita no fim da pirataria de software?

Cora Rónai responde: Não. Graças a Deus.

[15:12:18] - Ronize Aline Abreu (Freelancer) pergunta para Cora Rónai: Você acha que com o sucesso do Fotolog, os blogs podem ser deixados um pouco de lado?

Cora Rónai responde: Olá, Ronize! Acho que os flogs são uma evolução natural dos blogs. A comunicação é mais rápida, flui melhor. Mas isso só vale para gente que se comunica bem visualmente. Os blogs sempre terão o seu... uh, "espaço".

[15:13:41] - Marcelo Souza (Profissional Contratado - Ferreira de Souza) pergunta para Cora Rónai: Pelo que me lembro, o Millôr Fernandes foi um dos primeiros grandes jornalistas, escritores, pensadores, artistas consagrados, que não tiveram medo de se aliar à tecnologia para facilitar o seu trabalho. Qual foi sua influência para isso ?

Cora Rónai responde: Nós começamos juntos. Na verdade, ele se interessou antes de mim, mas eu acabei me empolgando antes. Compramos máquinas simultaneamente (em 86) e vivemos juntos essa experiência. A diferença é que eu ainda estou viajando nessa e ele já deu a volta por cima e já retornou ao bico de pena... ;-)

[15:15:11] - Fausto Rêgo (Jornalista - Rits - RJ) pergunta para Cora Rónai: Oi, Cora. Você começou o seu blog muito antes de O Globo ter a (ótima) idéia de criar blogs para seus colunistas. Queria saber como se deu esse processo interno de discussão do uso dos blogs pelo jornal e se vocês, do caderno de Informática, participaram dessa discussão.

Cora Rónai responde: Bom, na verdade, a idéia de se criar blogs lá foi minha. Mas eu apenas dei essa idéia, e o pessoal do Globo On levou em frente. O Info etc. não teve nada a ver com o desenvolvimento posterior da idéia, embora algumas pessoas que escrevem para nós, como a Cris, o Cat e Gravatá tenham se empenhado muito nos testes e nas sugestões. Beijo grande, Mosca!!!

[15:15:53] - Valmir Moratelli Cassaro (Repórter - Editora Globo - RJ) pergunta para Cora Rónai: Cora, muito se fala dos muitos benefícios trazidos ao jornalismo pela informática, entre eles a visível praticidade. Você conseguiria apontar alguns fatores negativos?

Cora Rónai responde: Negativos? Hmmm. Taí. Com a possível exceção do fato de que agora a casa da gente passa a ser uma extensão da redação, nenhum.

[15:17:37] - Fábio Santos (Profissional Contratado - Admédico) pergunta para Cora Rónai: o que você está lendo?

Cora Rónai responde: Vivir para contarla, de Garcia Marquez; Balzac and the little chinese seamstress, de um autor chinês cujo nome não me lembro nunca, teria que pegar o livro na mesinha de cabeceira; a National Geographic deste mês; mais uma pilha de revistas sobre foto digital e aparellhos wireless, meu xodó do momento. E o New Yorker.

[15:19:42] - Leonardo Castro (Estudante - "Apple") pergunta para Cora Rónai: `ex-diretor de marketing da Apple fala sobre seus ex-colegas e diz que é culpa deles a Apple não ser uma empresa de sucesso. Em uma carta aberta ao blog Apple Computer History, Michael Mace acusa seus ex-colegas de estupidez grupal e diz que a companhia foi destruída por uma cultura doente e desfuncional. 'A Apple Computer como um todo é uma falha total'`, por Felipe Cichini. Comente por favor.

Cora Rónai responde: Eu não conheço a "cultura Apple" da porta pra dentro, mas acho que a empresa cometeu uma série de erros fenomenais ao longo da sua existência. Apostar no mercado estudantil quando quem dá as cartas é o mercado corporativo, arrogância, soluções extremamente verticalizadas, por aí vai... Aqui no Brasil, pode acrescentar péssimo suporte aos usuários.

[15:21:26] - Valmir Moratelli Cassaro (Repórter - Editora Globo - RJ) pergunta para Cora Rónai: Tratar com leveza um assunto que pode parecer técnico é uma boa saída para conquistar o leitor. Um ?Caderno de Informática? deve receber o mesmo tratamento que outros suplementos do jornal ou é visto como produto diferenciado?

Cora Rónai responde: Lá no Globo, pelo menos, a impressão que eu tenho é que somos umas espécies de ETs. Acho isso bom, porque, na maior parte das vezes, não podemos ser "iguais" ao resto do jornal. Por exemplo, se fossemos grifar todas as palavras estrangeiras, ia ser um transtorno...

[15:22:31] - Rita Braune (Web Designer - Rita Braune) pergunta para Cora Rónai: Cora, você acha que uma pessoa pode iniciar na fotografia digital sem ter uma formação na fotografia tradicional?

Cora Rónai responde: Claro! Talvez seja até melhor. O que sempre é bom, naturalmente, é que a pessoa tenha uma idéia do que é a fotografia; veja o trabalho de outros fotógrafos; conheça os clássicos. Enfim, treine o olho, saiba o que veio antes...

[15:23:32] - Ronize Aline Abreu (Freelancer) pergunta para Cora Rónai: Você diria que o leitor do Info etc. é o habituado à tecnologia e que quer estar atualizado ou o neófito que procura orientação?

Cora Rónai responde: Muito misturado, Ronize. Quando a gente dá uma matéria mais técnica, o pessoal light reclama; quando a gente dá matérias leves, os antigos ficam chateadíssimos com a gente e dizem que estamos traindo a causa.

[15:25:43] - Gabriel Damásio de Oliveira (Estudante - UFS - Aracaju) pergunta para Cora Rónai: Cora, gostaria que você falasse um pouco da sua época de jornalismo cultural. Essa bagagem te ajuda ao trabalhar na editoria de Informática?

Cora Rónai responde: Eu trabalhei sempre na área cultural. Comecei a escrever sobre informática em ... 86, ou 87, não lembro bem... você não era nascido... no JB. O fato de ter vindo da área cultural permitiu, acho, que, desde cedo, eu tratasse a TI como uma revolução de costumes, e não apenas como tecnologia pura e simples. Vivência cultural te faz melhor jornalista de qualquer coisa, não só informática.

[15:27:46] - Nivaldo Nocelli (Freelancer) pergunta para Cora Rónai: Cora, tenho lido suas manifestações a respeito da polêmica atuação da indústria fonográfica (RIAA) na questão da troca de arquivos musicais no formato MP3. Qual o desfecho que você imagina para essa questão?

Cora Rónai responde: Não sei. Não estou otimista. O jogo está cada vez mais bruto, e as pessoas se intimidam com isso. De qualquer forma, acho que duas coisas são incontestáveis: 1) O gênio saiu da garrafa, isto é, sempre haverá troca online, ainda que, aos poucos, passe a ser uma atividade clandestina ou fora da lei; 2) O modelo de negócios das gravadoras já era. Ou elas mudam, ou morrem.

[15:28:25] - Fábio Santos (Profissional Contratado - Admédico) pergunta para Cora Rónai: Quantos anos vão passar até que o Brasil alcance níveis aceitáveis de inclusão digital?

Cora Rónai responde: Rapaz! Quantos anos ainda vão se passar até que o Brasil alcance níveis aceitáveis de inclusão, pura e simplesmente?!

[15:29:08] - Bruno Sabóia Pinto (Jornalista - Revista Neurônio) pergunta para Cora Rónai: De que maneira o meio acadêmico pode contribuir mais para o processo de democratização do acesso à informática, por parte de pessoas desfavorecidas?

Cora Rónai responde: Trabalhando voluntariamente em ONGs que se dedicam à difusão da informática, por exemplo, pode ser uma forma legal de contribuir.

[15:30:20] - Bruno Sabóia Pinto (Jornalista - Revista Neurônio) pergunta para Cora Rónai: Em relação à sua resposta para a Ronize, qual é a receita para o meio termo, e agradar a todos? Existe ou é papo furado?

Cora Rónai responde: Não dá para agradar a todos. Quando eu publico foto de gato, tem leitor que reclama; quando eu fico muito tempo sem publicar foto de gato, tem leitor que reclama. A gente se acostuma com isso. Desde que agrade a pelo menos 50% dos leitores, já tá bom, né?

[15:33:26] - Rita Braune (Web Designer - Rita Braune) pergunta para Cora Rónai: Qual foi a matéria que você mais gostou de fazer?

Cora Rónai responde: Recentemente, acho que a MacWorld em que foi apresentado o iMac, porque consegui roubar uma revista Time do bolo que desembarcou comigo em São Francisco, e que só ia para as bancas no dia seguinte (segunda); quando cheguei no hotel, postei as fotos da capa e da máquina, dei a descrição toda que ninguém tinha, fiz um carnaval. Claro que fotografei a revista ao lado do meu Thinkpad IBM... só pra chatear. Isso, no blog. Depois me encontrei com Steve Jobs "a nível de gente, enquanto pessoa" e isso foi muito bom; contar essa aventura toda foi uma grande experiência.

[15:33:42] - Fábio Santos (Profissional Contratado - Admédico) pergunta para Cora Rónai: Quantos Reais você acha saudável investir para ter um bom equipamento?

Cora Rónai responde: O máximo que você puder! Sempre.

[15:34:31] - Ronize Aline Abreu (Freelancer) pergunta para Cora Rónai: E a sua carreira de escritora, como foi influenciada pela informática?

Cora Rónai responde: A minha carreira de escritora praticamente acabou desde que passei a editar o Info etc. Esta é a única influência que consigo notar...

[15:36:34] - Raphael Perret (Assessor de Comunicação Social - Previ-Rio) pergunta para Cora Rónai: Oi, Cora, tudo bem? Você é fã inveterada de blogs e fotologs. Você acha que eles têm potencial para se tornarem ferramentas jornalísticas? Se sim, o que falta?

Cora Rónai responde: Aê, Raphael!!! É claro que eles têm. Os blogs, certamente, já se incorporaram à paisagem da "mídia" e, como provam alguns blogs americanos e aquele jornalista que foi sozinho pro Iraque, com patrocínio dos leitores, podem vir a ser auto-sustentáveis. Os fotologs não sei bem ainda como vão entrar nisso, mas é lógico que vão; são uma ferramenta de comunicação extremamente poderosa.

[15:38:12] - Gabriel Damásio de Oliveira (Estudante - UFS - Aracaju) pergunta para Cora Rónai: Você já acompanhou os programas de rádio sobre informatica que têm em algumas rádios de São Paulo? Que achou deles? Acha que o jeito de escrever que o Info.etc tem serve também para falar de informática no rádio?

Cora Rónai responde: Sem falsa modéstia, acho que o estilo do Info etc. criou escola, e passou a ser o jeito de se escrever e/ou falar de informática. Não sei se os programas de SP são os mesmos do Rio, mas aqui a influência é marcante. Até porque, volta e meia, são colaboradores do Info etc. que fazem ou dirigem os programas.

[15:40:01] - Bruno Sabóia Pinto (Jornalista - Revista Neurônio) pergunta para Cora Rónai: Falando um pouco de televisão: O que você achou do desfecho do caso Domingo Legal? Foi Punição ou Censura prévia?

Cora Rónai responde: Acho perigoso o precedente mas, por outro lado, acho que nada justifica o que o Gugu fez. A única coisa que não entendi foi a surpresa das pessoas em relação à falsificação da notícia do Gugu. Desde quando aquele programa apresenta alguma coisa que não seja falsa?! A começar pelo Gugu?!

[15:41:24] - Hudson Franco (Diagramador - S/A Estado de Minas) pergunta para Cora Rónai: Como `Maqueira`, você aconselharia alguém a usar uma outra plataforma que não o OS da Apple hoje em dia? Você considera OSX ainda é o melhor? Apesar de dizerem que o MAC ainda é o melhor para produção de artes, publicidades, não estaria na hora de eles começarem a abaixar o preço de seus produtos?

Cora Rónai responde: Eu não sou macintóxica! Eu acho o iMac a máquina mais linda que eu já vi, mas continuo usando PC. Não tive bala na agulha para passar para um iMac. Além disso, como escrevo sobre informática para o público em geral, tenho que usar a plataforma mais comum, ou seja, Windows.

[15:42:32] - Louise Santos (Estudante) pergunta para Cora Rónai: Boa tarde! Atualmente, os jornalistas precisam saber de tudo um pouco. Segundo tuas indicações, o que o estudante precisa saber da área de informática para ter mais chances de entrar no mercado de trabalho?

Cora Rónai responde: O estudante precisa se interessar por tudo. Tem que ter uma curiosidade malsã. Tem que ser uma antena em permanente alerta. Isso basta. Não adianta fazer cursinho disso ou daquilo sem ter real interesse pelo que acontece.

[15:44:00] - Mariana Ribeiro (Estudante) pergunta para Cora Rónai: Boa Tarde!!! Cora, na sua opinião como conciliar a forte concorrência no mercado de trabalho, sem perder a credibilidade, o respeito e a ética?

Cora Rónai responde: Eu ainda sou daquelas pessoas otimistas que acham que a gente vence no mercado de trabalho tendo ética e credibilidade. No dia em que eu deixar de acreditar nisso, vou procurar outra profissão.

[15:45:01] - Bruno Sabóia Pinto (Jornalista - Revista Neurônio) pergunta para Cora Rónai: Sobre a resposta sobre o blog ser ferramentas jornalísticas: Então quer dizer que o Blog não é um fenômeno momentâneo?

Cora Rónai responde: De jeito nenhum. A onda em tornos dos blogs é, mas eles não. É claro que a febre dos blogs é um fenômeno momentâneo, mas a ferramenta blog já é parte do arsenal de quem se comunica.

[15:45:16] - Leonardo Castro (Estudante - "Apple") pergunta para Cora Rónai: O que você tem a dizer para os usuários Windows, que estão cansados de rebootar o pc, conviver com a lerdeza, etc, sobre os MAcs e o sistema operacional Mac OS 10.2 (Jaguar) ?

Cora Rónai responde: Usem Linux.

[15:46:15] - Bruno Sabóia Pinto (Jornalista - Revista Neurônio) pergunta para Cora Rónai: Mais televisão: num tempo em que os programas de fofocas, pegadinhas e outras baboseiras dão a tônica na televisão, de que maneira o jornalismo cultural pode galgar o seu espaço na telinha?

Cora Rónai responde: Será que pode? Pelo que assisto por aí, não tenho muita esperança não. Por outro lado, acho que estão pintando coisas curiosas em televisão na Internet. Talvez a saída esteja por aí.

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16/07/2003

From The New York Times

In Los Angeles, Skid Row Resists an Upgrade


By CHARLIE LeDUFF

July 15, 2003


LOS ANGELES, July 13 — The eastern quarter of downtown Los Angeles is a cattle pen, an outdoor outhouse, a human calamity. It is the largest concentration of homelessness in the country.

Thousands of people in the 50 blocks known as Skid Row live on the sidewalks in tents and cardboard condominiums. Thousands more sleep on mission cots, in the back seats of automobiles and in flophouses. Those who can manage it take hotel rooms with creaking bedsprings that let for $107 a week, plus a $2 deposit for a pillow.

A welfare check will buy two weeks in a hotel, an unemployment check will buy three, a Social Security check four. For most, the cash stream dries up in the middle of the month, and then they are back on the street, riding the carousel of misery until a new check arrives.

Skid Row has been 100 years in the making, but things are changing in the "Nickel," the center of homelessness in a city with 41,000 homeless people, a number that is by all accounts rising. With housing scarce and rents high, there is an effort to revitalize the bleak district bound by Main, Alameda, Third and Seventh Streets into something livable and neighborly.

Downtown property is hot. Government agencies are moving in. The Roman Catholic Church recently consecrated a $189 million cathedral, and developers have plans to convert fleabag hotels like the El Dorado and the Frontier into lofts and condominiums. Five thousand housing units are in the works.

The holdup is Skid Row, whose outer edges are now an incongruous mix of women in rags and mudlike faces and women in sweet perfumes and tailored suits.

Once, long ago, this was the choicest part of the city. Silent-movie stars and presidents stayed in hotels like the Alexandria, with its opulent staircases and marble walls. Today, welfare families live there, and the surrounding streets are chockablock with cut-rate garment shacks, liquor stores, warehouses, flower and fish wholesalers and people felled by mental diseases, drugs and bad luck.

Police Chief William J. Bratton, borrowing a page from his days in New York, has instituted sweeps against the so-called quality-of-life criminals who, as the theory goes, will graduate to bigger crimes if left unchecked.

The American Civil Liberties Union is suing the city, arguing that it is rousting sidewalk sleepers without giving them beds. Recently, the city agreed to pay nearly $170,000 to dozens of homeless people who were caught up in the sweeps and then filed suit, charging improper arrest.

Chief Bratton defends the crackdown. "Many there don't want help," he said. "They'll take food and free clothes, but they want to live on the streets. While I have compassion, my job is to do something about it."

Skid Row reeks of a chicken yard. The portable toilets are often used as shooting galleries by addicts, or as makeshift bordellos. Dealers also peddle in front of churches and in view of the local police station.

The women without shelter sleep near the safety of the missions. The mentally ill are left to their demons. The hardcore stay on St. Julian Street — stickmen with glittering eyes and violent impulses. The hotels are occupied by Mr. Smith and Mrs. Jones. The rule of thumb says half the guests are drunk, one-third are crazy, a quarter are service veterans and nearly all have a police record.

Five in the morning is when the police start to roust people from their tents and boxes, the missions begin making breakfast and the smell of coffee permeates.

"I walk at night and sleep in the day," says Alonzso Regazzi, 37, a not-so-down-in-the-heels type who says he does not belong on these gum-stained boulevards. He recently had a job in a doctor's office, he says, and his turn in fortune can be blamed on a nagging wife called crack.

Mr. Regazzi is better off than most out here, with his polished shoes and college education. He is one of the few who, when they hit bottom, bounce. His unemployment checks come every other Thursday, totaling about $775.

"You can't go lower than Skid Row," he says, having found himself a room near the Harbor Freeway. He offered to show a visitor around.

The Midnight Mission on Los Angeles Street is considered the superior eatery on Skid Row. A person is not made to listen to a prayer lecture before being allowed to the table, and there are seconds and thirds.

A clean-looking man, Larry Hatcher, inquires about a friend who fell on hard times. One woman is crying, asking Jesus something. Another says she will not appear in court to answer a ticket for sleeping on the sidewalk.

"They give you a ticket for sleeping on the sidewalk?" Mr. Hatcher asks, arching an eyebrow. "Where are you supposed to go?"

"Jail," says Joy, the one with the ticket.

"Out of the state," says her friend Heidy Pandolfi.

"So my friend could be in jail?" asks the man.

"He probably is," snaps Joy.

Mr. Hatcher appears shocked. He wipes his eyes. "I didn't know it was like this," he says. "There's a lot of misery."

A sign above the women quotes what was, until recently, a rarely enforced law: "No person shall sit, lie, or sleep in or upon any street, sidewalk or other public way."

A man across the street disassembles his tent, arguing with an invisible roommate. The gates on the trinket shops that sell pink poodles and "I H L.A." T-shirts rattle open. When business opens, it's time to get up, and by 8 a.m., the homeless are moving again, headed nowhere.

Homelessness is on the rise across the county, experts say. Unemployment is up, housing is scarce, counties and cities are cutting budgets. In New York, the number of people seeking shelter is up 65 percent since the Sept. 11, 2001, attacks, officials there say. In Chicago, the number of homeless families is up 35 percent from 2001. But in Los Angeles, the problem is gargantuan. With half the population of New York, it has more people on the streets than New York has in its shelters. An additional 45,000 people are homeless in greater Los Angeles County. While New York will spend $640 million on homeless services this year, Los Angeles will spend just $50 million and provide fewer than 13,000 beds.

"The lack of concern for the homeless in Los Angeles is disgraceful," says Lee Baca, the Los Angeles County sheriff, who is fond of saying that his 20,000-bed jail is the largest homeless shelter and psychiatric hospital in the city. "The punitive approach solves absolutely nothing without services to get these people integrated back into society."

Officials who drive out the homeless are like children who push vegetables around a plate, claiming they are gone, said Clancy Imislund, the managing director of the Midnight Mission, himself a former Skid Row resident. "Homelessness is an unsolvable dilemma," Mr. Imislund says. "New York throws $640 million to enable people to keep doing what they're doing. In my 29 years here, I'm convinced not much can be done. All we can do is to help the few that want it and give comfort to those who need it."

The history of vagrancy in Los Angeles is a long one, beginning in the 1870's, when the railroads converged on downtown and the first tramps stepped off the trains. The Midnight Mission was founded in 1914, and now serves 55,000 meals a month. In 1936, during the the Depression, the police began their so-called Bum Blockade, keeping out-of-town migrants and tramps from entering the city. In the early 1980's, when the mental hospitals emptied out, the city concentrated services for the down-and-out on Skid Row.

A city within a city has developed, with citizens from everywhere. Some come from prison, some are runaways, some are former foster children who turned 18, some are refugees of the 9-to-5 world, some are mothers with children. More than half are alcoholics, studies show.

As the shadows grow longer and the afternoon cools, the flies dissipate and action on the street picks up. People leave their rooms, the overpasses, the shadows of the missions. Bills change hands, bundles of euphoria are exchanged, and the missions start preparing supper.

Alonzso Regazzi says he is caught in this world. He fell into the street life a few years ago, drew away, and came back. He sees Skid Row as a spectacular social failure.

"They really are right to clean this place out," Mr. Regazzi says, walking down Los Angeles Street, on the shady part of the boulevard, explaining his life to a stranger.

Sobering up was the easy part, Mr. Regazzi says. "The hard part is facing the world after you're sober."

"So people get addicted to the chaos," he offers. "It's easier than working."

There are, of course, programs. He tried them. But programs only work for those who want them to work. "Jesus helps those who help themselves, right?" Mr. Regazzi says.

There are many ways to earn a living here, he adds: drugs, prostitution or selling parking-meter time to commuters using the old slug-on-a-string method. Welfare is available to indigent single adults — $212 a month from the county — but recipients must prove they are seeking work, and so many do not bother.

People here commonly die by the knife, by the needle, by the front end of a bus, but rarely by suicide, Mr. Regazzi says. He recommends the Hotel Cecil, a common stop on the coroner's route.

"It's the best on Skid Row," Mr. Regazzi says. He stays there occasionally. The lobby is done up with a two-tone marble. There is a small diner and a security man at the elevator. A thumb print and cash are required. The halls are filled with laughter. The toilet on the 15th floor is overflowing.

Outside the hotel, a few men stand around selling drugs. One thin man tells Mr. Regazzi that it wouldn't hurt him to look, and Mr. Regazzi gets the feeling that this very man will someday be preaching on this very same corner. The police circle by, and the hustlers scatter.

A few duck into Crabby Joe's bar at Main and Seventh, and when a crowd like this enters, a little guy named Ike gives the twice-over before dispensing a drink.

Mr. Regazzi nurses a beer, considering the totality of his life. It is growing dark outside. "I'm not like the bums out here," he says. "I'm not born to it. I've never lived in a tent. I'm sure I'll look back on this when I crawl out and say I knew what the bottom was like." He finishes his beer. Ike watches him go out.

A woman is howling under the street lights. "I been in this neighborhood 30 years," Ike says, "and I don't see nothing changing. It's never going to change."

29/05/2003

Culpa da imprensa?

Zuenir Ventura


Não são poucos os leitores que crêem na hipótese de que a violência no Rio é, em grande parte, uma construção virtual da imprensa, uma espécie de reflexo amplificado de seus exageros. Quando se viaja, então, a pergunta é inevitável: “por que vocês só falam de violência?”. Numa cidade do interior, um jovem repórter insistiu para que eu, em nome do jornalismo, assumisse a responsabilidade pelo medo que nos cerca. Como se já não bastasse o casal Garotinho repassando a culpa de tudo para a mídia.

Anteontem, uma leitora indignada escreveu para O GLOBO perguntando até quando o Rio seria “massacrado pela propaganda da violência”. Ela citava o exemplo de sua empresa, e de outras que estavam sendo prejudicadas pelo que considera ser uma distorção da imprensa local, que ignora o que de ruim se passa em outras cidades para se concentrar nas baixarias daqui. Gaúcha morando no Rio há cinco anos, ela contava: “Ando num carro importado que não é blindado, com pulseira de ouro e tudo a que tenho direito, e afirmo que nunca fui assaltada.”

Um testemunho animador. Mas inúmeros outros podem se contrapor a ele. De qualquer maneira, dei uma olhada no jornal para ver se do que fora publicado havia o que não fosse notícia ou tivesse recebido destaque inadequado. É verdade que nos últimos dias — e não só — os fatos policiais predominaram no noticiário. Na nossa primeira página, Rosinha e Chiquinho confraternizam numa grande foto, enquanto o texto fala do escândalo em que o secretário é acusado de proteger o tráfico na Mangueira.

Nas páginas de dentro, mais notícias relacionadas com violência. De um lado, a matéria do juiz barbaramente espancado e torturado por jovens bandidos de classe média. Mais adiante, o enterro da estudante morta numa falsa blitz. Embaixo, o incidente dos quatro pitboys que agrediram freqüentadores de uma boate gay, espancaram dois guardadores de carros e desafiaram PMs. Ontem, a manchete era o crime brutal, hediondo, “infame”, como disse o ministro Gil, de Almir Chediak. Exagero? Onde está o excesso — nos relatos ou na própria realidade?

Cada um dos acontecimentos noticiados correspondia a um sentimento real — um susto, um choque, um grito de dor. Se a imprensa não pode alarmar, não deve, por outro lado, perder a capacidade de se espantar. Tem de evitar o pânico, mas também a anestesia, a resignação, a desistência de se indignar. Não pode, enfim, aceitar como natural o absurdo que é a violência.

(O Globo, 28.5.2003)

15/05/2003









Laranjinha

Fêmea castrada, vacinada e vermifugada. Porte pequeno/médio, 1 ano.

Extremamente dócil e meiga, com aquele olhar de "olhe pra mim; estou aqui!".

Foi encontrada correndo e atravessando as movimentadas ruas de Botafogo.

Medrosa, mas com certeza só até se sentir segura em novo lar; seu porto seguro.

Espera uma adoção consciente para poder dar muito carinho e amor incondicional à sua nova família.

Para saber de mais detalhes, favor contactar Márcia pelos telefones (21) 2543-3839 e 9963-9919.

14/05/2003





Dar nome aos bois

Alberto Dines


Não adianta, ilusão tem limites: em algum momento a econometria vai esbarrar na realidade. Economia não é abstração. Os C-Bonds, o risco país, a taxa de câmbio e as demais medições estão sendo aplicadas num processo artificial - como nos laboratórios onde as experiências ocorrem em condições ideais, sem as interferências do ambiente.

Era inevitável a contaminação do noticiário político pelo noticiário policial e a conjugação das estatísticas de crimes com as cotações das páginas econômicas. Os manuais e ritos corporativos não permitiram. Mas isso acaba de acontecer no âmbito da imprensa internacional, obrigada a enxergar o país como um fenômeno integrado, sem segmentações aleatórias. Não é coincidência que, nos últimos dias, o New York Times, a BBC-World, o Wall Street Journal e o Economist - os dois últimos com influência mundial na esfera da economia e dos negócios - tenham dedicado bom espaço e bom tempo para tratar da escalada de violência que grassa no país.

Incorremos em outro perigoso engano quando evitamos dar o nome aos bois e nos refugiamos em classificações minimalistas e fictícias. Estamos diante de uma insurreição generalizada, pré-guerra civil. Crime organizado é conversa fiada. Balela. O nome correto é narcoterrorismo.

Os horrores dos anos de chumbo excluíram do vocabulário jurídico os atentados à segurança nacional e agora estamos pagando um preço altíssimo pelos eufemismos e maneirismos lingüísticos que nos impedem de enxergar os problemas nas suas verdadeiras dimensões. A violência federalizou-se e o combate à violência, com ou sem intervenção formal, com ou sem as Forças Armadas nas ruas, deve federalizar-se. Aberta e ostensivamente. Em todas as esferas, inclusive das relações internacionais. As Farc já não podem ser tratadas com punhos de renda, o Complexo da Maré começa no fundo da Baía de Guanabara e termina nas selvas da Colômbia.

Cada vítima, cada violência, cada susto, cada insulto cívico e cada agressão ao Estado de Direito infligido pelo poder-bandido nos lembra que estamos diante de uma emergência federal. Na última terça-feira, o eixo rodoviário Norte-Sul foi seccionado pelas incursões na Linha Vermelha, Linha Amarela e o controle da Avenida Brasil, no Rio. Não são ocorrências paroquiais, metropolitanas ou estaduais; são situações de risco nacional. Esta é uma verdade que precisa ser encarada de frente, com a designação apropriada.

As reconciliações entre dona Rosinha e dona Benedita, as festinhas entre o coronel Bolinha e seus desafetos, além de ridículas, são um ultraje à memória dos caídos e dos humilhados pela Confederação da Violência. Os sorrisinhos cínicos e os tapinhas nas costas na véspera dos funerais de uma sociedade livre flagram a falta de compostura e escancaram a impostura.

O Morro do Turano não é distrito urbano, é agora distrito federal. O atentado (premeditado, conforme evidenciou-se) contra a Universidade Estácio de Sá não cabe num B.O., Boletim de Ocorrências. Merece uma C.R.I, Constatação de Ruptura Institucional.

Quando o governador de fato, Anthony Garotinho, reconhece que perdeu o controle da situação e o ministro da Justiça, no Observatório da Imprensa (terça ultima, pela TV E), diante de uma pergunta da jornalista Dora Kramer, admite constrangido que daria nota cinco ao desempenho das autoridades do Estado do Rio em matéria de segurança, já não há como disfarçar a etiquetagem e a dimensão do desastre.

Essa dimensão não é apenas factual, é conceitual. Quando alguns senadores decentes, como Pedro Simon e Jefferson Peres, propõem que se rasgue o Código de Ética e se dissolva a Comissão de Ética diante da decisão do presidente do Senado de arquivar o processo contra ACM, o Rei do Grampo, percebe-se a imantação moral entre a degradação da lei e da ordem no Rio de Janeiro e a degradação dos costumes políticos nas altas esferas da República.

Quando o PT majoritário - o partido da esperança e da mudança - capitula diante desse ultraje, preocupado com a maioria para aprovar reformas que sempre combateu, delineia-se um vale-tudo político-partidário que explica inclusive a complacência federal com o Casal Governador do Rio de Janeiro que tantas lágrimas e estragos tem custado.

Quando o pseudo-oposicionista PSDB permite que o senador Tasso Jereissati articule abertamente o apoio para proteger os amigos-parceiros ACM e Sarney, numa das manobras mais sórdidas da recente crônica parlamentar, evidencia-se que o partido precisa trocar de nome. Deve deixar de lado o SD (da Social-Democracia) e denominar-se apenas PB, Partido Banana - desfibrado, desossado e emasculado.

Esta é a hora de dar nome aos bois. Antes que os bois irmanados, saneados, risonhos e politicamente corretos, pisoteiem o que sobrou em matéria de decência e coragem.

(Jornal do Brasil, 10.5.2003)


26/03/2003

Um insulto à honra

José Paulo Cavalcanti Filho


"Começou a guerra. No ocidente arde, ao rubro, tudo que talvez seja o futuro". Verso de Fernando Pessoa. A arte imita mesmo a vida. E esse futuro ocidental de horror começou a se revelar, a partir de ontem, no sangue morno de pessoas simples que serão trucidadas no Iraque. Tão inocentes quanto os inocentes do World Trade Center. As TVs americanas já estão exibindo o formidável espetáculo da guerra, ao vivo e em cores, com intervalos destinados a seus patrocinadores de sempre. Crianças mortas e tenis-air da Nike, escolas destruídas e vaqueiros fumando Malboro, corpos mutilados entregues a seus destinos e modelos siliconados bebendo Budweiser. Com os mortos enterrando seus mortos em um como que videogame alucinado de edifícios indo aos ares, caças F16 dando piruetas e o brilho reluzente de tanques Abram, mísseis Tomahawk e B-52 armados com foguetes teleguiados. Dando forma à radiosa epifania da arte de matar.

Bush tem razões de sobra para fazer essa guerra. Nenhuma delas moralmente aceitável. Primeiro razões econômicas. Como evidente represália à transferência da moeda-padrão das reservas internacionais do Iraque (2001), de dólar para euro, convertendo o país em perigoso exemplo para vizinhos que o poderiam imitar. Ou a circunstância de se dar essa invasão, e não por acaso, no segundo maior produtor de petróleo do planeta. Garantindo o precioso abastecimento dos Estados Unidos. Com a exploração desses poços podendo acabar em mãos de empresas americanas ¿ o que seria uma versão neoliberal e deletéria da mais simples e desavergonhada pirataria. A sagração da rapinagem.

Também razões políticas, igualmente indefensáveis. Como redenção da fraude eleitoral que até hoje ilegitima seu mandato presidencial, o inimigo externo unindo o país. E razões psicóticas. Que, no fundo, esse ódio por Saddam é também vingança pela humilhação sofrida por Bush pai, anos atrás. Cito Sun-Tsé: "Quando um soberano está movido pela cólera e pela vingança, não deve declarar guerra, o general com esses sentimentos não tem condições de comandar uma batalha".

O filósofo alemão (apesar do sobrenome italiano) Theodor Adorno ensinava que a verdadeira liberdade não consiste em poder escolher entre o branco e o preto, mas em poder negar-se à imposição dessa escolha. O ensinamento vale agora. Não é decididamente razoável que sejamos obrigados a escolher entre o autoritarismo de Saddam e a arrogância de Bush. A consciência cívica não nos deveria levar a nenhuma dessas escolhas. Não queremos Saddam e não queremos Bush, simplesmente. A pergunta certa é ¿ queremos ou não queremos guerra? E a resposta certa é ¿ não.

Chegou a hora dos grandes gestos. Gostaria de ver, por exemplo, o Papa transferindo o Vaticano para Bagdá. Mesmo que apenas por algum tempo. Ou um rodízio de presidentes de países importantes, fazendo o mesmo. Inclusive o Brasil. Para comprovar, na prática, o tamanho do desvario de Bush. Para ver se ele continuaria atacando, com o risco de matar tanta gente ilustre. Gandhi, vivo fosse, certamente já estaria por ali. Que sua trajetória nos sirva de inspiração.

Depois de Saddam, quem virá? Arafat? Fidel? Kadafi? Ou a internacionalização da Amazônia? Haverá algum limite ético para a prepotência? Prepotência localizada. Que o generoso povo americano não pode ser confundido com esse político menor, que é Bush.

P.S: A definição de Bush para a matança de agora, como uma "Guerra Santa", é um vilipêndio à santidade e um insulto à honra.

(Jornal do Commércio, Recife, 21.3.2003)

Allies Risk 3000 Casualties in Baghdad: Ex-General


Mon March 24, 2003 10:17 PM ET

LONDON - The U.S.-led force in Iraq risks as many as 3,000 casualties in the battle for Baghdad and Washington has underestimated the number of troops needed, a top former commander from the 1991 Gulf War said on Monday.

Retired U.S. Army General Barry McCaffrey, commander of the 24th Infantry Division 12 years ago, said the U.S.-led force faced "a very dicey two to three day battle" as it pushes north toward the Iraqi capital.

"We ought to be able to do it (take Baghdad)," he told the Newsnight Program on Britain's BBC Television late on Monday. "In the process if they (the Iraqis) actually fight, and that's one of the assumptions, clearly it's going to be brutal, dangerous work and we could take, bluntly, a couple to 3,000 casualties," said McCaffrey who became one of the most senior ranking members of the U.S. military following the 1991 war.

"So if they (the Americans and British) are unwilling to face up to that, we may have a difficult time of it taking down Baghdad and Tikrit up to the north west."

McCaffrey said Defense Secretary Donald Rumsfeld had misjudged the nature of the conflict. Asked if Rumsfeld made a mistake by not sending more troops to start the offensive, McCaffrey replied: "Yes, sure. I think everybody told him that."

"I think he thought these were U.S. generals with their feet planted in World War II that didn't understand the new way of warfare," he added.

U.S. forces have advanced more than 200 miles into Iraqi territory since the start of the war and are beginning to confront an elite division of the Republican Guards deployed to defend the capital.

"So it ought to be a very dicey two to three day battle out there." McCaffrey said of the confrontation with the Republican Guards. He said his personal view was that the invading troops would "take them (the Iraqis) apart." "But we've never done something like this with this modest a force at such a distance from its bases," he warned.

McCaffrey, a former Commander in Chief of the U.S. Armed Forces in Latin America, served overseas for 13 years and took part in four combat tours. He twice received the Distinguished Service Cross, the second highest medal for valor in the United States.

(Reuters)
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Rumsfeld's strategy under fire as war risks become increasingly apparent



By JOSEPH L. GALLOWAY

WASHINGTON - Five days into the war, the optimistic assumptions of the Pentagon's civilian war planners have yet to be realized, the risks of the campaign are becoming increasingly apparent and some current and retired military officials are warning that there may be a mismatch between Secretary of Defense Donald H. Rumsfeld's strategy and the force he's sent to carry it out.

The outcome of the war isn't in doubt: Iraq's forces are no match for America and its allies. But, so far, defeating them is proving to be harder, and it could prove to be longer and costlier in American and Iraqi lives than the architects of the American war plan expected. And if weather, Iraqi resistance, chemical weapons or anything else turned things suddenly and unexpectedly sour, the backup force, the Army's 4th Infantry Division, is still in Texas with its equipment sailing around the Arabian peninsula.

Despite the aerial pounding they've taken, it's not clear that Saddam Hussein, his lieutenants or their praetorian guard are either shocked or awed. Instead of capitulating, some regular Iraqi army units are harassing American supply lines. Contrary to American hopes - and some officials' expectations - no top commander of Saddam Hussein's Republican Guard has capitulated. Even some ordinary Iraqis are greeting advancing American and British forces as invaders, not as liberators.

"This is the ground war that was not going to happen in (Rumsfeld's) plan," said a Pentagon official. Because the Pentagon didn't commit overwhelming force, "now we have three divisions strung out over 300-plus miles and the follow-on division, our reserve, is probably three weeks away from landing."

Asked Monday about concerns that the coalition force isn't big enough, Defense Department spokesperson Victoria Clarke replied: "... most people with real information are saying we have the right mix of forces. We also have a plan that allows it to adapt and to scale up and down as needed."

Knowledgeable defense and administration officials say Rumsfeld and his civilian aides at first wanted to commit no more than 60,000 American troops to the war on the assumption that the Iraqis would capitulate in two days. Intelligence officials say Rumsfeld, his deputy Paul Wolfowitz and other Pentagon civilians ignored much of the advice of the Central Intelligence Agency and the Defense Intelligence Agency in favor of reports from the Iraqi opposition and from Israeli sources that predicted an immediate uprising against Saddam once the Americans attacked.

The officials said Rumsfeld also made his disdain for the Army's heavy divisions very clear when he argued about the war plan with Army Gen. Tommy Franks, the allied commander. Franks wanted more and more heavily armed forces, said one senior administration official; Rumsfeld kept pressing for smaller, lighter and more agile ones, with much bigger roles for air power and special forces.

"Our force package is very light," said a retired senior general. "If things don't happen exactly as you assumed, you get into a tangle, a mismatch of your strategy and your force. Things like the pockets (of Iraqi resistance) in Basra, Umm Qasr and Nasariyah need to be dealt with forcefully, but we don't have the forces to do it."

"The Secretary of Defense cut off the flow of Army units, saying this thing would be over in two days," said a retired senior general who has followed the evolution of the war plan. "He shut down movement of the 1st Cavalry Division and the1st Armored Division. Now we don't even have a nominal ground force."

He added ruefully: "As in Operation Anaconda in Afghanistan, we are using concepts and methods that are entirely unproved. If your strategy and assumptions are flawed, there is nothing in the well to draw from."

In addition, said senior administration officials, speaking on the condition of anonymity, Rumsfeld and his civilian aides rewrote parts of the military services' plans for shipping U.S. forces to the Persian Gulf, which they said resulted in a number of mistakes and delays, and also changed plans for calling up some reserve and National Guard units.

"There was nothing too small for them to meddle with," said one senior official. "It's caused no end of problems, but I think we've managed to overcome them all."
Robin Dorff, the director of national security strategy at the U.S. Army War College in Carlisle, Pa., said three things have gone wrong in the campaign:

_A "mismatch between expectations and reality."

_The threat posed by irregular troops, especially the 60,000 strong Saddam Fedayeen, who are harassing the 300-mile-long supply lines crucial to fueling and resupplying the armor units barreling toward Baghdad.

_The Turks threatening to move more troops into northern Iraq, which could trigger fighting between Turks and Kurds over Iraq's rich northern oilfields.

Dorff and others said that the nightmare scenario is that allied forces might punch through to the Iraqi capital and then get bogged down in house-to-house fighting in a crowded city.

"If these guys fight and fight hard for Baghdad, with embedded Baathists stiffening their resistance at the point of a gun, then we are up the creek," said one retired general.
Dr. John Collins, a retired Army colonel and former chief researcher for the Library of Congress, said the worst scenario would be sending American troops to fight for Baghdad. He said every military commander since Sun Tzu, the ancient Chinese strategist, has hated urban warfare.

"Military casualties normally soar on both sides; innocent civilians lose lives and suffer severe privation; reconstruction costs skyrocket," Collins said, adding that fighting for the capital would cancel out the allied advantages in air and armor and reduce it to an Infantry battle house to house, street by street.

Another retired senior officer said the Apache Longbow helicopter gunships that were shot up badly Sunday had been sent on a deep strike against Republican Guard divisions guarding the approaches to Baghdad. He and others said the Apaches shouldn't have been used that way.

"They should have been preceded by suppression of enemy air defenses," the general said. "There should be a barrage of long-range artillery and MLRS (Multiple-Launch Rocket System) rockets before you send the Apaches in."

Reports from the field said virtually every one of the estimated 30 to 40 Apache Longbows came back shot full of holes, as the Iraqis fired everything they had at them. One did not come back, and its two-man crew apparently was taken prisoner.

"Every division should have two brigades of MLRS launches for a campaign like this," the general said. "They do not, and the question in the end will be why they don't."
He said the Air Force was bombing day and night, but its strikes have so far failed to produce the anticipated capitulation and uprising by the Iraqi people. One senior administration official put it this way: "'Shock and Awe' is Air Force bull---!"

Dorff said: "Expectations were raised for something that might be quick and relatively painless. What we're seeing in the first few days probably ought to dispel that. Part of the problem is that expectations were raised that we would march in and everybody would surrender - sort of the four-day scenario of 1991."

Instead of streams of surrendering Iraqi soldiers, the American and British forces report that they are holding around 2,000 enemy prisoners.

(Knight Ridder Newspapers)
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The Goal Is Baghdad, but at What Cost?


By MICHAEL R. GORDON

CAMP DOHA, Kuwait, March 24 — The way to Baghdad is through the Republican Guard. The United States Army and the Marine Corps are now moving up supplies and getting their forces into place to take the fight to Saddam Hussein's most loyal units. According to the allied war plan, by the time the onslaught begins in earnest, the Iraqi troops will have been thoroughly pummeled from the air.

There is little doubt that the United States military has the skills, training and weapons to take the capital and dislodge the Hussein government. The questions are how long it will take, and what the cost will be in terms of casualties, both allied and Iraqi.

The Iraqis are trying to counter the allied strategy by carrying out guerrilla-style raids to disrupt the movement of troops and supplies and divert allied attention to threats in the rear. The advance on the Iraqi capital may also bring allied forces closer to the threat of chemical weapons, according to American officials. They are concerned that the Iraqis have drawn a red line around the approaches to the capital and that crossing it could prompt Mr. Hussein's forces to fire artillery and missiles tipped with chemical or germ warheads.

Baghdad is what the United States military calls the center of gravity. It is the stronghold from which Mr. Hussein controls his forces, a bulls-eye for the American air war commanders and the final objective for American ground forces that have drawn up plans to fight their way to the gates of the capital, then conduct thrusts at power centers inside the city.

From the start, the campaign to take Baghdad was envisioned as a multifaceted effort.

It began with a cruise missile attack that was intended to kill Mr. Hussein. Government command centers and bunkers have been blasted with bombs and cruise missiles, attacks that can be expected to continue periodically.

For all the talk about waging a punishing air campaign, the United States has been holding back some punch. The Pentagon removed hundreds of strikes from its attack plan in an effort to limit civilian casualties and damage to civilian structures.

The calculation is that this approach will make it easier for American officials to receive public support and rebuild Iraq after Mr. Hussein is toppled. In contrast to the Persian Gulf war in 1991, Iraqi television is still on the air. Should American air power destroy Mr. Hussein's government — a prospect that seems increasingly unlikely — American ground forces would be rushed to Baghdad to fill the power vacuum.

Otherwise, the role of air power is to weaken the government's command and control and knock out Iraqi air defenses, then provide United States ground commanders with air cover if American ground forces have to venture into the still-defended capital.

Airstrikes will also be directed against Republican Guard forces protecting the approaches to the city, including their command and control, artillery and tanks. The goal is to weaken the units and freeze the Republican Guard in place so they cannot drop back and prepare for urban warfare.

The land attack on Baghdad is still in its initial phases. The first step took place Sunday night when the 11th Attack Helicopter Regiment began to strike a brigade of the Medina. To set the stage for the assault, the United States military hammered Iraqi radar and tried to suppress surface-to-air missiles. But the Iraqis had a low-tech solution: they deployed a large number of irregular fighters who were equipped with machine guns and small arms.

As the helicopters took off, they flew low off the ground to make themselves less inviting targets for surface-to-air missiles. But that made them vulnerable to the small-arms fire. Thirty of 32 Apache helicopters were struck by small-arms fire.One helicopter went down, and its two-man crew was captured. The Army was so concerned that the Iraqis would get their hands on the technology that they fired two Atacms missiles today to destroy the helicopter. Because of bad weather after the action, the military had no report on whether they succeeded.

The Apaches destroyed only 10 to 15 Iraqi armored vehicles. American military commanders say they are rethinking their helicopter tactics as a result of the events of the past 24 hours.

The weather has also become at least a temporary ally of the Iraqis. American military officials are forecasting several days of cloudy weather with 10,000-foot ceilings and 30-knot winds that will create sandstorms. The bad weather will preclude helicopter attacks and make it more difficult for allied warplanes to attack the three Republican Guard divisions around Baghdad.

But the bad weather will not last forever, and American forces are using the time to get their forces into position and move up large amounts of fuel and supplies.
The marines, for example, are laying a long fuel pipeline in Iraqi territory. American forces are also trying to improve the security of their convoys by deploying more armed escorts on the ground and by helicopter in response to a wave of attacks by Iraqi fedayeen and other irregular forces.

During the stretch of bad weather, the Army hopes to keep the pressure on by firing Atacms surface-to-surface missiles. The weather will make it difficult for allied pilots to hit mobile targets, but the air war commanders could try to keep the heat on by dropping gravity bombs or cluster bombs.

When the moment comes to battle the Republican Guards full tilt, it will be through a combined arms attack involving artillery, close air support and tanks. Army and Marine forces will be involved.

After reaching the outskirts of the capital, American commanders envision a deliberate fight and say they are determined not to rush into the city.Rather, their plan calls for patient reconnaissance to try to pinpoint the location of Mr. Hussein, his top deputies and the main defenders of his rule, including internal security organizations and elements of the Special Republican Guard. They are hoping that residents will provide the necessary intelligence.

The goal is to avoid house-to-house fighting that could result in large American and civilian casualties. Instead, allied commanders envision thrusts at crucial power centers. Army combat engineers might be at the front of a formation to destroy barricades and other obstacles. Tanks could follow, protected by light infantry to guard against attacks, rocket-propelled grenades and antitank weapons. The formations would also be protected by air power, including spotters that would call in airstrikes and Apache helicopters, which could fire Hellfire missiles.

"If there is to be a fight in and around Baghdad, we're going to have to be very patient to establish the right conditions for us to engage in that fight," Gen. William S. Wallace, the commander of the V Corps, said in a recent interview. "I think that means forming joint combined arms teams that include Air Force, Army aviation, light infantry, armored forces, engineer forces that together can go after a specific target, for a specific purpose."

(The New York Times, 25.3.03)

11/03/2003

Abranet-RJ se oferece para assumir domínio anti-spam após webdrama


Cancelamento de domínio põe Comitê Gestor, IG e Fapesp em confusão



por André Machado

A tenção, internautas: fiquem tranqüilos! O Movimento Anti-Spam brasileiro não ficou órfão. Após a verdadeira novela mexicana que, na semana passada, envolveu o dito movimento, a Fapesp, o Comitê Gestor e o IG, e que culminou com o cancelamento do domínio antispam.org.br, a Abranet-RJ se ofereceu para assumi-lo.

- Já enviamos um pedido oficial ao CG nesse sentido e estamos colocando no ar um site provisório, o www.br.an tispam.org>, até sair a decisão final - explica Cláudio Abreu, vice-presidente da Abranet-RJ. - Apoiamos o movimento e pretendemos dar-lhe todo o apoio de que precisa, inclusive jurídico.

Segundo Cássio Vecchiatti, representante da comunidade empresarial no Comitê Gestor e conselheiro da Abranet nacional, esta semana será feita uma reunião do CG com a associação. A decisão final sai em novembro, após a reunião oficial do comitê, dia 10.

- Queremos analisar o assunto com calma, para não tomar uma resolução precipitada, - diz ele. - Um site como este, que tem um grande número de e-mails, exige uma estrutura mínima.

Desde o começo da semana, a comunidade internauta estava em polvorosa. Tempestades de e-mails entupiram caixas postais após o cancelamento, pela Fapesp, do domínio antispam.org.br, devido à situação irregular: seu único contato era uma caixa postal em Orlando, Flórida. (Para que um domínio .br funcione legalmente, é necessário que haja um responsável por ele em território nacional.)

O cancelamento, porém, foi feito em tempo recorde, após um pedido encaminhado à Fapesp (responsável pela atribuição de domínios no Brasil) pelo vice-presidente de tecnologia do IG, Demi Getschko - que é também, por acaso, membro do Comitê Gestor. No dia 20, sexta-feira, o IG havia sido incluído na lista negra do Mail Abuse Prevention System (MAPS) dos EUA. Não deu outra: logo, um texto no site do movimento denunciava um suposto ’’tráfico de influência’’ entre IG, CG e Fapesp. A confusão estava armada e respingou para todos os lados. Fomos, portanto, atrás dos fatos.

Demi Getschko, um dos "founding fathers" da Internet brasileira, nega, categoricamente, qualquer má intenção por trás de sua atitude. Ele explica que o IG entrou na lista do MAPS por um descuido: o alerta caiu no suporte do IG, que não se deu conta do que tinha em mãos e só respondeu findo o prazo para evitar a inclusão na lista negra. Tentando desarmar a bomba, Demi foi checar as reclamações:

- Havia no site do MAPS vários links, entre eles o do antispam.org.br - diz Demi. - Entrei no sítio, procurei algum contato, mas lá não havia nada além de uma assinatura genérica. Mesma coisa no Registro. Achei a situação toda muito esquisita, e mandei uma msg para o Frederico Neves, da Fapesp, apontando as irregularidades e pedindo um congelamento do registro. Em nenhum momento pedi o cancelamento, puro e simples, do domínio. No sábado pela manhã é que o Frederico me ligou dizendo que ia cancelar o domínio, porque os caras não estavam querendo assumi-lo. Agora eu virei o Grande Vilão da rede, como se estivesse determinado a acabar com o Movimento Anti-Spam. Mas pergunto: eu ia fazer uma besteira dessas?! Ser anti-Anti-Spam é uma causa que não existe, é mais ou menos como ser contra o Movimento de Apoio aos Deficientes, ou coisa assim... Tudo o que eu pedi foi que os caras regularizassem a situação.

Novo website do movimento terá suas listas de volta

De fato, Neves cobrou ao movimento a regularização do domínio, mas seus integrantes decidiram jogar a toalha e entregá-lo à tutela do Comitê Gestor, conforme mensagens a que o Informática Etc teve acesso. A questão é: por quê? Quem responde é Jerônimo Barros, um dos integrantes do antispam.org.br. O movimento é tocado por voluntários, mas Jerônimo foi o contato oficial no Registro.br durante um bom tempo e está na luta anti-spam desde o início:

- Simplesmente não tínhamos mais condições de levar o movimento à frente sozinhos, sem apoio oficial. Enquanto meu nome estava lá como contato, foram muitas as ameaças de empresas e de donos de domínios em lista negras querendo me processar - revela. - Por isso o domínio estava no exterior. Um amigo nosso, dos Estados Unidos, nos cedeu o telefone e endereço dele, e passei tudo para lá. Isso porque não tínhamos nenhum apoio financeiro, jurídico, técnico, nem nada para manter o movimento. Já cobramos do CG alguma ajuda, mas eles não responderam, ou talvez não tenhamos cobrado como devêssemos... Nunca tivemos um apoio oficial, só oficioso.

Tanto Jerônimo Barros quanto Hermann Wecke, outro integrante do movimento, reiteram que o pedido de entrada do IG na blacklist do MAPS não partiu do movimento. É verdade. Esta "honra" coube à Rede Nacional de Pesquisa (RNP) e à empresa Task, de Belo Horizonte.

Segundo Isamar Maia, do Anti-Spam, o acordo com a Abranet-RJ prevê inclusive o retorno das listas de discussão e de bloqueio ao site, que já tinham deixado de funcionar no Brasil.

Info etc., 30.10.2000

Muito barulho por... tudo



Vista agora, do alto de uma sexta-feira em que já conhecemos o final feliz da história, a Grande Confusão envolvendo o Movimento Anti-Spam foi... bem, uma grande confusão. Mas, no decorrer da semana, enquanto os dramáticos acontecimentos se desenrolavam em nossas mailboxes, foi um stress. Um Grande Stress! Sobretudo para uma vítima constante de spam, como vossa tia Cora, que neste exato momento tem 1.302 itens em sua caixa postal (807 não lidos).

O Movimento Anti-Spam ia acabar?! Mas não se acaba com uma coisa assim! Ainda por cima nesse momento, em que há uma epidemia de spams safadíssimos que não só não se julgam spam, como ainda têm coragem de dizer isso ao infeliz destinatário!

E como podia o Comitê Gestor estar de acordo com isso?! Para quem não sabe o que é o CG, aqui está a sua job description, tirada da apresentação no site oficial:

"O Comitê Gestor da Internet do Brasil foi criado a partir da necessidade de coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços Internet no país, com o objetivo de assegurar qualidade e eficiência dos serviços ofertados, assegurar justa e livre competição entre provedores e garantir a manutenção de adequados padrões de conduta de usuários e provedores."

Bom. Como podem essas expressões, "qualidade e eficiência" e "padrões de conduta", se coadunar com o fim de um movimento anti-spam?! Não podem, é claro. Além disso, um outro fato me perturbava: a "paisagem humana" do comitê, digamos assim, não combina com um gesto anti-Anti-Spam. O pessoal de lá, a começar pelo coordenador Ivan Moura Campos, é certamente do bem. Por outro lado, por que duvidar do pessoal do Anti-Spam? Quem luta contra spam conta, de saída, com a minha simpatia; e quem faz trabalho voluntário pelo bem da comunidade on-line, como eles fazem, conta com todo o meu respeito.

Foi uma semana maluca. Conversei pelo telefone com o Ivan Moura Campos e com o Demi Getschko, troquei e-mails com o Hermann Wecke, o Frederico Neves e incontáveis amigos mais ou menos divididos entre CG e MAS. Aos poucos as coisas foram se esclarecendo, mas a verdade é que devo estar vendo filmes americanos demais: uma briga com mocinhos de ambos os lados é algo que me aflige tremendamente. E nesse caso, para piorar, todos tinham alguma razão.

A primeira coisa a ficar clara, para mim, foi que o Comitê Gestor, em si, não teve nada a ver com o peixe. O Demi, que pediu o congelamento do Anti-Spam, é apenas um dos 12 membros do comitê, e é também da diretoria do IG, mas é perfeitamente normal que assim seja. O comitê deve ser composto por pessoas muito envolvidas com a Internet brasileira - e, se ele não está envolvido, quem está? (Dito isso, vale observar que o IG, como está, é mesmo uma fábrica de spam: o que eu recebo de besteira vinda de usuários deles não está no gibi.)

A Fapesp também agiu dentro das suas atribuições. Ou as pessoas (e/ou empresas) se responsabilizam por seus registros, ou a Internet vira uma terra de ninguém, dando motivo às tentativas de controle governamental que são hoje, infelizmente, realidade no mundo todo.

O pessoal do Anti-Spam, por sua vez, está coberto de razão. Vejam o que disse o Jerônimo: "Quando eu soube que era o IG que estava por trás do congelamento, pensei: mas por que esse pessoal está enchendo agora para mudarmos o domínio para cá? O que vai acontecer? Vou colocar meu nome lá de novo, e segunda-feira entra um batalhão de advogados aqui arrancando meu couro e pregando-o em praça pública para servir de exemplo. O IG é uma empresa de mais de US$ 100 milhões e, para gastar US$ 500 mil para arrancar meu couro, não custa nada. Ao passo que aqui não tenho nenhum tipo de apoio para poder fazer frente a um negócio assim. Por isso tínhamos de viver mais ou menos na clandestinidade, meio como uma resistência francesa."

Enfim: bem está o que bem acaba. Como observou Ivan, do CG: "Ninguém precisa de mártires, precisamos de vários movimentos anti-spam neste país!"

Info etc., 30.10.2000